
ALBERTO PIZZOLI | AFP
Muito se debate sobre a escolha do novo pontífice e sobre os métodos desta eleição. O Conclave vem do latim Cumclavis e quer dizer sob chaves, no sentido de uma reunião fechada e sob sigilo. O Conclave tem a função de escolher o Papa, que é o bispo de Roma.
Nem sempre a Igreja utilizou esse meio, mas, depois do século X essa foi a forma estabelecida. Quem participa do Conclave e escolhe o novo Papa são os cardeais. É um ritual complexo e cheio de significados que marca a importante escolha de um novo pontífice. Contudo, é importante apresentar aqui algumas coisas que o conclave não é e que a gente pode se confundir.
1. NÃO É DEMOCRACIA
Os Cardeais são todos titulares de uma igreja de Roma, dessa forma, é o clero de Roma que escolhe seu novo bispo. Certamente a Igreja encontrou maneiras de fazer com que pessoas de diversos lugares do mundo possam “pertencer” ao clero romano e, assim, eleger o Papa. Mas não é uma democracia representativa. Os cardeais representam suas realidades, mas não a população. Por exemplo, neste Conclave não haverá “representantes” de Milão, nem de Paris, pois seus arcebispos não são cardeais. Mas haverá um cardeal que é missionário na Mongólia, país com 1400 fiéis; e um cardeal da Suécia, país com 3% de católicos na população.
2. NÃO TEM PARTIDOS
Muito se fala sobre as alas progressistas, conservadoras e moderadas. Alguns veículos de comunicação até publicam imagens da “composição política” do Conclave. Mas o fato é que não existem partidos, mas visões diferentes.
Um cardeal não é como um deputado que chegou até sua posição por meio de acordos e apoios, que em geral são positivos. O cardeal é escolhido pelo Papa e, em geral, são homens de muito estudo, de espiritualidade profunda e com experiências significativas na Igreja. Por exemplo, estarão presentes o Cardeal Brenes da Nicaragua, país duramente provado por um regime totalitário, e o Cardeal Steiner que é Arcebispo de Manaus, no coração da Amazônia brasileira. Homens com visões significativamente diferentes e particulares, que não poderiam se associar em um “partido”.
3. NÃO TEM VENCEDOR
Nem tem perdedor. Quem não for escolhido não perdeu nada, nem tempo, nem dinheiro, nem saliva nos debates internos. O novo Papa também não é vitorioso no pleito. Embora seja necessário um número significativo de votos, o que eles aferem é o consenso e não simplesmente a maioria.
4. NÃO TEM "TROPA DE CHOQUE"
De forma maldosa há quem diga que o Papa Francisco organizou esse Conclave escolhendo cardeais que fizessem mais sua linha de pensamento. O Papa João Paulo II também realizou em 2001 um consistório para a criação de 42 cardeais. Não era para organizar sua sucessão, mas para ampliar o debate.
O Papa Francisco nomeou cardeais de pequenos países como Timor-Leste e Toga, e de regiões de minoria cristã, como Irã e Paquistão. Da África são 17 cardeais votantes. Esses cardeais não formam uma “tropa de choque” que vai competir com os votos dos 10 cardeais estadunidenses ou dos 17 italianos, mas irão ampliar o debate.
5. NÃO TEM INFLUÊNCIAS EXTERNAS
Os cardeais realizam uma cerimônia chamada de extra omnes antes das votações, que quer dizer fora todos. Existe o sigilo e também quem trabalha no Vaticano nesse período, como cozinheiros e equipe da limpeza, também faz um compromisso de sigilo. A equipe de comunicação nem passa perto do conclave: não há o que comunicar. Os cardeais ficam entre si. Certamente o contexto do mundo marca o pensamento dos cardeais. Mas seria muito restrito achar que um governo ou grupo de poder influenciaria na escolha, existem outras influências. No Conclave que escolheu João Paulo II, por exemplo, certamente os cristãos perseguidos do leste europeu foram influenciadores para a escolha de um Papa do outro lado da cortina de ferro, mas poderes políticos não teriam relevância no debate.
SEDES VACANS
VINDE ESPIRITO SANTO!